Essa parte do blog é para mostrar pra vocês um pouquinho do meu espírito de escritora. Eu escrevo fanfics e histórias desde o 2º grau, e tudo começou com uma idéia entre duas amigas (Eu e Karina, do blog Toalete Feminino). Nós duas escrevemos fanfics (pra quem não sabe, é a abreviação do termo em inglês fan fiction, ou seja, "ficção criada por fãs" - e trata-se de contos ou romances escritos por fãs que não fazem parte do enredo oficial de um livro) desde aquela época e até hoje gostamos de publicá-las em sites e fóruns pela internet.
Por esse motivo tive a idéia de postar aqui uma das histórias que escrevi algum tempo atrás. Inicialmente, essa história foi escrita para participar de um concurso e depois eu resolvi continuá-la.
Espero que gostem.

Sinopse:
Maggie está voltando pra casa quando presencia um eclipse solar capaz de mudar a vida de muitas pessoas pra sempre, inclusive a sua. Ela é surpreendida por seu namorado que a transforma em uma vampira. Após acordar, ela descobre que eles não estão sozinhos e terá que enfrentar muitas aventuras para descobrir o que realmente aconteceu durante o eclipse.

Capítulo 1 - Introdução

O dia virou noite. A luz do sol virou uma completa escuridão. E o mundo nunca mais foi o mesmo depois disso.

Foi o que aconteceu quando eu estava voltando da escola, depois de me despedir de Erik, meu namorado-ultra-gostoso, com um beijo super meloso. Ele me disse que viria me buscar à noite para darmos umas ‘voltinhas’ por aí. E ele me daria um presente, eu tinha quase certeza disso, pois ele deixou escapar que me faria uma surpresa. As borboletas em meu estômago deram lugar ao frio na espinha ao olhar pro céu e procurar o sol que não estava mais lá. As pessoas ao redor pareciam sentir a mesma coisa. Uma sensação de medo invadiu meu corpo inteiro e eu acelerei o passo pra chegar o mais rápido possível em casa. No caminho, liguei pro celular de Erik, mas ele não me atendeu. Estranho, ele nunca largava aquele maldito telefone (é, eu tinha um ciúme danado dele). Depois de 5 mensagens na caixa postal, 12 mensagens de texto e nenhuma resposta, olhei pro céu e meu corpo pareceu congelar no lugar. Eu comecei a me sentir hipnotizada pela cor do céu. Era um tipo de azul escuro que eu nunca tinha visto antes e não havia mais nenhuma nuvem e nenhuma estrela. Tudo, tudo mesmo estava completamente escuro. O sol ainda não tinha aparecido e me dei conta de que algo estava realmente errado quando olhei pro relógio. Meia-hora tinha se passado e nada. Nem um mínino raio solar. Parecia que uma nuvem negra tinha coberto o sol e não tinha previsão de desaparecer. Consegui me forçar a continuar caminhando. 50 metros, ufa! Eu estava perto. Peguei minha chave no bolso e quando ia abrir a porta ouvi aquela linda voz sussurrando meu nome. “Maggie”. Levei um susto e virei pra trás, afinal pelo horário ele ainda deveria estar na escola e a gente tinha acabado de se despedir. Mas em um instante ele estava ali, exatamente na minha frente e olhando pra mim. Erik, o garoto mais gostoso da escola e meu namorado.

- Ohh, Erik. Você está bem? O que está acontecendo?

Não sei por que senti um medo ainda maior ao olhar pra ele. Percebi a razão ao ver seus olhos. Eram de um vermelho-fogo. Minhas pernas tremiam e meu coração batia forte demais. Ele pareceu ouvir as batidas e me lançou um olhar sedutor, seguido de um sorriso brilhante e cheio de... presas?? Como assim??

- O que está acontecendo?? – repeti com a voz engasgada em medo, tentando andar pra trás, mas só havia a porta fechada. Ele novamente não me respondeu.

Um passo em minha direção e meu corpo congelou. Eu não sabia o que estava acontecendo de verdade, mas sabia que aquela era a hora.

A hora certa de gritar, mesmo tendo certeza de que meus gritos seriam a última coisa que sairia da minha garganta enquanto eu estava viva. Ou melhor, a penúltima, pois a última seria o meu sangue...

Capítulo 2 – Nova vida

Quando abri meus olhos, percebi que não estava morta. Ou estava? Eu ainda não tinha certeza. Eu não sentia mais o meu coração batendo, nem meu sangue circulando em minhas veias. Mas eu ainda respirava. Como?? Meu corpo estava mais gelado que o normal (tá, eu sempre fui mais gelada que o normal e isso não conta) e eu estava deitada em algum lugar igualmente gelado. Olhei ao redor e não reconheci nada. Onde eu estava? Eu vestia uma camisola branca e estava descalça. Fiz uma força enorme para conseguir me sentar, já que meu corpo parecia ter sido atropelado por um caminhão ou algo assim. Eu sentia muita dor, meu corpo inteiro doía e minha cabeça parecia que iria explodir em poucos instantes. Pisquei algumas vezes para tentar aliviar a dor e percebi que de olhos fechados a dor quase passava. Olhei pra cima e a luz quase me cegou. Droga! Por que meus olhos ardem tanto?? Tentei me lembrar de qual foi a última coisa que tinha acontecido para que fosse parar em um lugar tão estranho, mas nada vinha à minha memória. De repente me lembrei de uma pessoa: Erik. Ele estava comigo, ele deveria saber o que tinha acontecido. Desci da cama gelada e fiquei de pé, me apoiando na beirada para não cair. Olhei pro lado e avistei alguns aparelhos estranhos em cima de uma mesinha de aço. Cheguei mais perto com cuidado para não fazer barulho e não chamar a atenção de quem quer que estivesse por ali, e fiquei em choque quando percebi o que eram aquelas coisas. Aparelhos de autópsia!! Só então me dei conta de onde realmente eu estava.

- Oh merda!! Eu estou no necrotério!!! – deixei escapar quase gritando.

Coloquei a mão na boca para abafar o susto e caminhei mais depressa pra porta. Ouvi vozes vindo na direção da sala e me escondi ao lado de um armário. Uma das vozes parecia familiar e me lembrava muito a do... Erik? Se eu ainda tivesse batimentos cardíacos, com certeza meu coração teria parado naquele momento.

O choque em meu rosto passou para o rapaz vestido de médico que estava ao seu lado. Os dois ficaram mudos e eu imaginei que eles estavam se perguntando onde diabos aquela menina ruiva estava. Oh, como eu queria sair do meu esconderijo bobo e me jogar nos braços do meu namorado. Será que ele ficaria muito assustado??

- Mas o que está acon...

Ouvi um som abafado e me virei para tentar espiar o que estava acontecendo e vi o médico desmaiado no chão com o Erik em pé ao seu lado de punho fechado e ofegante. Eu não agüentei mais toda aquela tensão e acabei saindo de onde estava escondida. Ao contrário do que eu pensava que aconteceria, Erik abriu um sorriso lindo e foi aí então que eu me lembrei de tudo com uma velocidade assustadora.

- Oh meu Deus!! Foi você!! Você me matou!! – gritei desesperada.

- Você não está morta! Veja! Você está até falando! – ele andou depressa em minha direção e eu me afastei.

- O que você fez? Por que bateu nele? – apontei pro cara desmaiado no chão.

- Não temos tempo para explicações. Vamos, preciso tirar você daqui.

- Eu não vou com você! Você precisa me explicar o que... ahhhhh me solta!!!!!

De repente eu estava voando, ou melhor, eu estava nos braços fortes de Erik e ele estava literalmente voando!! E quando eu digo voando, é sério! Seus pés não chegavam nem a tocar no chão de tão rápido que ele corria. Não consegui nem ver os rostos das pessoas lá dentro, ele foi muito rápido mesmo!

Em segundos nós já estávamos do lado de fora do necrotério e correndo pela noite.

- Me põe no chão! Agora!!!! – eu gritava pelo caminho quando ele já corria ‘mais devagar’.

- Você precisa ficar calada. Ninguém pode te ouvir. – ele disse soando mais sério que o normal.

- Como assim, ninguém pode me ouvir?? O que diabos está acontecendo? E por que eu estava dentro de um necrotério a poucos minutos de ser estripada?!

- Maggie, cala a boca! – ele gritou como nunca tinha feito antes comigo.

Eu não consegui gritar mais. Aquilo me magoou. Eu tentei chorar, mas não havia lágrimas. E como eu poderia ficar triste, ter sentimentos, se eu não tinha mais coração??

Percebendo que eu estava muito quieta, ele parou de andar e me colocou no chão. Estávamos no meio de uma rua escura e deserta e eu não tinha idéia de onde ela ficava.

Me senti envergonhada quando lembrei que eu estava vestida apenas com uma camisola de defunta e meu cabelo deveria estar um bagaço total. Droga, ele nunca tinha me visto assim tão horrível antes.

- Maggie... me desculpe. Eu não deveria ter falado assim com você. – ele disse voltando a fazer aquela voz que me derretia por completo. – Você deve estar cheia de dúvidas e sem entender nada, mas eu prometo que vou te explicar tudo assim que estivermos bem longe daqui.

- Mas por quê? Por que temos que ir pra outro lugar? E minha família, a sua, como eles ficam?

- Maggie... – ele hesitou como se não pudesse dizer o que queria. – Nós precisamos ir. Agora.

- Não. Eu não vou. Eu preciso ver meus pais, avisá-los de que estou bem e...

- Não, você não precisa.

- Como assim não preciso??

- Eles... eles pensam que você está morta.

- O quê??? Mas eu... eu... você mesmo disse que eu estou viva!! – novamente as lágrimas tentavam sair e nada.

- Eu menti.

- Por quê? O que está acontecendo comigo? Quem é você e o que fez com o meu namorado?

Ele riu achando graça do meu desespero. Droga, por que ele tinha que ser tão lindo e tão sádico?

- Maggie, vem comigo. Nós não podemos ficar nessa cidade. Eles estão vindo.

- Eles quem??

- Droga, por que você tem que ser tão curiosa? – ele disse bravo e se rendendo à minha teimosia.

Eu me sentei no paralelepípedo e cruzei os braços esperando que ele se sentasse também. E foi o que ele fez. Ele soltou um suspiro e se sentou ao meu lado, ficando de frente pra mim. Com uma das mãos tentou segurar meu rosto, mas eu me afastei. Ele abaixou a cabeça envergonhado e respirou fundo algumas vezes antes de começar a falar.

Capítulo 3 – Descobertas

- Do que você se lembra sobre mim? – olhei pros olhos dele que não estavam mais da cor vermelho-fogo. Seus olhos tinham voltado a serem azuis como o mar e isso só me deixou ainda mais confusa.

- Eu lembro que você me mordeu e...

- Não, antes disso. Como eu era com você, na escola... ?

- Não estou entendendo.

- Como eu ficava perto de você? Eu me alimentava? Eu gostava mais do dia ou da noite? E a luz me incomodava?  - ele fazia as perguntas como se fossem para si mesmo e não para mim.

- Erik... você não se lembra?

- Eu não sei, eu... estou confuso. É como se eu tivesse ficado em coma e acordasse assim, com esses poderes. – ele disfarçou.

- Poderes? Além de ser super veloz?

Ele me olhou assustado e por um instante eu percebi que eu não era a única com medo ali. Ele também estava perdido.

- Eu também consigo... ver melhor no escuro, sentir a presença de alguém que está vindo, sentir cheiro de... sangue. E sede, muita sede.

- Nossa... parece que eu acordei dentro de um livro de vampiros e meu namorado virou o Edward Cullen. – eu disse, esgotada.

- Não brinca, é sério. E eu acho que você também vai ficar assim.

- O quê?? Eu, virar vampira???

- Você se lembra que eu... – ele hesitou e eu me dei conta da gravidade da situação.

- Oh meu Deus!!!!!! Você me mordeu! – num impulso passei os dedos pelo meu pescoço para verificar se tudo não foi um sonho muito ruim, mas as provas estavam lá. Duas marcadas fundas em meu pescoço. O choque tomou meu rosto e eu paralisei.

- Me desculpe... eu... eu não sabia o que estava fazendo. Eu nunca tinha ficado daquele jeito antes e quando teve o eclipse e eu me transformei naquilo, a primeira pessoa que me veio à cabeça foi você. Eu segui seu cheiro e quando te vi... eu não resisti. Depois que você estava desmaiada em meus braços e o sol voltou a aparecer, eu voltei ao normal e me dei conta do que tinha feito. Eu corri pra longe antes que seus pais me vissem e me escondi até ir te buscar no necrotério. – ele ofegou e tentou segurar minha mão. Como eu estava em choque, eu não me mexi e ele apertou minha mão com força. Ele também era gelado, assim como eu. Diante do meu silêncio ele se desesperou. – Maggie, me desculpa. Fala comigo, por favor.

- Então isso quer dizer que eu... vou ficar como você? Pra sempre??

- Eu não sei, ainda não sei direito o que está acontecendo. Você não parece estar tão estranha quanto eu.

- A luz.

- O que?

- A luz do necrotério feriu meus olhos. Eu estava com muita dor de cabeça e agora não estou mais. Isso é porque estamos no escuro.

Erik pareceu entender o que eu estava falando, pois olhou ao redor e viu que já era noite e estávamos em uma estrada com pouca iluminação. Sua mão continuava segurando a minha com força e a outra passou por meu rosto com carinho. Inclinei a cabeça ao seu toque igualmente frio e encarei seu olhar mais uma vez. Ele parecia estar sofrendo tanto quanto eu, mas deixou escapar um sorriso ao ver que eu finalmente cedi ao seu toque. Os lábios macios dele se aproximaram dos meus e eu não fiz absolutamente nada para impedir o beijo. Eu estava morta (que ironia) de vontade de beijá-lo de novo depois de tudo o que estava acontecendo. Apesar de tudo, Erik me transmitia segurança e eu precisava disso mais do que nunca agora.

- Você me perdoa? Eu juro que não tive intenção. – ele parou pra analisar a frase. – Ok, eu posso ter tido a intenção, mas não era completamente eu ali. Eu te amo, Maggie, e nunca iria querer te machucar.

- Eu sei disso. Eu também amo você, Erik. Mas eu também preciso de um tempo para entender tudo isso antes de qualquer coisa. O que vamos fazer agora? Por que não podemos voltar?

- Você não vê? E se houverem mais pessoas como nós lá? E se... se todos já tiverem se tornado assim também?

- Mas... e nossos pais, nossos amigos? Vamos abandoná-los? – choraminguei como um bebê.

Ele pareceu ficar sem saber o que dizer e apenas me encarou pensativo.

- Tudo bem. – ele disse depois de algum tempo. – Vamos voltar. Mas não definitivamente. Primeiro vamos arrumar uma roupa decente pra você, depois esperamos todos dormirem e verificamos se estão todos bem, ok? Depois a gente resolve o que fazer.

Concordei com o plano dele, já que eu mesma não tinha nenhum. Ainda não tinha conseguido parar pra pensar em tudo, na reviravolta que aconteceu em minha curta vida. Em um único dia deixei de ser uma adolescente boba de 17 anos e me tornei uma morta-viva vampira sugadora de sangue. Oh, merda. Que vida!

Capítulo 4 – Não estamos sozinhos

Como já era praticamente madrugada (aproximadamente 02:55h da manhã), não encontraríamos nenhuma loja aberta pela cidade e voltar pra casa naquelas condições não fazia parte do plano. O jeito foi invadir o quintal de alguém e roubar algumas roupas. Felizmente consegui encontrar uma calça jeans do meu número exato, uma camisa rosa com desenho da Hello Kitty (eu não tive muita escolha) e um par de tênis que algum bagunceiro deixou do lado de fora à noite. Erik estava bem apresentável, vestido com uma calça jeans e seu casaco de capuz.

- Cadê o sangue? – perguntei olhando pra ele.

- Que sangue?? – ele respondeu confuso.

- Na sua camisa. Meu sangue era pra estar em você, certo? – um nó na garganta surgiu quando eu disse aquilo. Parecia tão sádico.

- Oh, eu lavei. Afinal, como você acha que eu conseguiria entrar no necrotério sujo de sangue?

- Boa pergunta. Como você entrou no necrotério afinal?

Ele pareceu considerar a pergunta quando hesitou de novo. Isso já estava me dando nos nervos.

- Se você não me contar, eu não vou poder te ajudar. – eu disse, tentando soar séria uma vez na vida.

- Eu descobri que também tenho poder de persuasão. Eu consigo convencer as pessoas do que quero que elas façam. – e pela cara dele, ele tinha acabado de descobrir isso também.

- Oh. – foi tudo o que consegui dizer. Ótimo, agora ele poderia me convencer a fazer o que ele queria. Uma namorada-marionete. Maravilha.

Andamos em silêncio nos escondendo a cada vez que víamos alguma pessoa pelas ruas. Erik queria correr, mas eu já estava enjoada o suficiente para passar por aquilo de novo. Avistei a casa dele de longe e todas as luzes estavam apagadas, como se não houvesse ninguém em casa. Ou todos estivessem apenas dormindo. Era o mais certo, de acordo com o horário.

- Estranho. – Erik disse atraindo minha atenção pra ele que estava ao meu lado.

- O que foi?

- Eu sinto algo estranho. – e ele também estava estranho. Seu corpo estava arrepiado até a nuca e suas narinas inflavam depressa.

- O que é? O que você está sentindo?

- Fique aqui. Não se mexa e não me siga.

Erik me deixou ali sozinha, escondida atrás de um arbusto, e andou depressa-quase-voando até sua casa. Ele não entrou pela frente, em vez disso caminhou até os fundos da casa e sumiu. Aquela sensação de algo estar errado me invadiu de novo, como no dia do eclipse inesperado, e o frio na espinha voltou. Era como se eu estivesse sendo observada por alguém que eu não podia ver e esse alguém quisesse me... matar. Olhei ao redor e não vi ninguém. Tudo estava tranqüilo e não havia nenhum barulho. Esfreguei os braços para tentar espantar o medo e fazer meus pêlos abaixarem, mas o nervoso só aumentava. Droga, por que ele demorava tanto??

- Erik, onde você está? – reclamei baixinho e vencida pelo medo resolvi ir atrás dele. Mas fiquei surpresa ao ver que ao tentar mover meu pé ele não saía do lugar. – O que...

Então me lembrei do que Erik disse antes de ir: “Não se mexa e não me siga” e me dei conta da extensão dos seus poderes. Ele era realmente muito poderoso!

- Droga, eu também sou uma vampira, não sou? Também tenho poderes. Vamos lá, Maggie, só é preciso concentração. Concentre-se. – eu repetia pra mim mesma até sentir que estava fazendo efeito e eu estava me acalmando de verdade. – Agora mexa os pés. Vamos.

Depois de muita concentração, finalmente consegui me soltar do feitiço de Erik e me mexi. Atravessei a rua correndo um pouco mais rápida que o normal (e me espantando por isso) e parei quando ouvi um barulho vindo do meu lado direito. Foi um barulho fraco, como se alguém tivesse pisado em alguma coisa, mas eu não via ninguém. Não havia ninguém lá. Não deveria haver.

Acelerei o passo e caminhei até os fundos da casa, por onde eu tinha visto Erik pela última vez. A porta estava aberta, mas não havia nenhum sinal dele por ali. Hesitei um pouco antes de entrar na casa escura, mas enfim tive coragem. Tateei a parede tentando achar o interruptor e quando o achei consegui acender a luz. A cena que vi em seguida fez meu corpo gelar ainda mais. Erik estava sentado no chão da cozinha choramingando baixinho, agarrado aos próprios joelhos e com a cabeça entre eles. Corri até ele e levantei sua cabeça para ver seu rosto. Ele estava com os olhos vermelhos, mas não havia lágrimas e não era o mesmo vermelho-fogo da outra vez. Dessa vez ele parecia estar fazendo força para chorar e não conseguia.

- Erik, o que houve? Eu fiquei preocupada.

- Eles... eles...

- Eles? Seus pais?

- Estão todos mortos. – ele disse entre um soluço e outro.

Fiquei de pé em choque. Meu mundo desabou ao imaginar que ele pudesse ter feito aquilo com os próprios pais. Como se ele tivesse lido meus pensamentos, ele adicionou:

- Não fui eu. Quando cheguei aqui eles já estavam assim.

Ele fez um sinal com a mão para que eu fosse em frente e entrasse na sala. Engoli em seco antes de fazer aquilo. Eu não tinha certeza se teria coragem.

Dei alguns passos em direção à sala e fechei os olhos. Respirei fundo e abri os olhos. A cena era horrível. O Sr. Robert e a Sra. Judith estavam deitados no tapete da sala com os olhos abertos e sem vida. Suas cores eram pálidas e as marcas no pescoço não deixavam dúvidas de que havia sido um ataque de vampiros. A diferença era que os dois tinham um corte enorme na garganta e um pedaço de madeira cravado no coração de cada um. Uma cena horripilante.

Voltei pra cozinha e encontrei Erik de pé, com as mãos apoiadas na pia e a cabeça baixa. Andei em sua direção e o abracei o mais forte que pude.

- Oh Erik, sinto muito. Eles não mereciam isso.

- Nenhum de nós merecia isso, Maggie. Eu vou encontrar quem fez isso. Eu vou acabar com eles.

- Eles?? Você acha mesmo que existem outros como nós?

- Um só não conseguiria fazer isso com meu pai. – ele engoliu um nó seco ao falar do seu pai, seu eterno ídolo.

- Você tem razão. Não estamos sozinhos. – eu olhei pela janela e me arrepiei novamente. A sensação de alguém lá fora tinha sumido e quem quer que fosse tinha desaparecido depois que eu entrei.

Capítulo 5 – Minha família

Saímos em silêncio depois que Erik cobriu os pais com lençóis brancos e ligou pra polícia. Ele também pegou uma mochila e encheu com algumas roupas sem saber ao certo quando poderia voltar. Ele não quis esperar a polícia chegar, pois já seria muito estranho explicar porque ele tinha as mesmas marcas no pescoço e não estava ‘completamente’ morto como os pais. Ninguém iria se preocupar em como ele estava sofrendo e sim, com toda aquela situação bizarra.

Segurei em sua mão e o abracei de lado enquanto andávamos depressa em direção à minha casa. Agora seria a minha vez de ter medo do que esperar a seguir.

E se eles também estivessem mortos? E se eu nunca mais visse meus pais e minha irmã com vida?

Me senti um pouco melhor por não sentir aquela sensação ruim ao me deparar com a casa escura, como na casa de Erik. Mesmo ainda em choque, Erik me ajudou a verificar se havia algum movimento dentro da casa antes de entrarmos escondido. Tirei a chave reserva que eu deixava embaixo do tapete da porta e destranquei a porta de entrada com cuidado para não fazer barulho. A casa estava tranqüila e subimos as escadas com a rapidez digna dos vampiros. Abri a porta do quarto dos meus pais bem devagar e os observei dormindo por um tempo, feliz de eles estarem bem. Tá bom, depois de a filha adolescente ter morrido na porta de casa, eles não deveriam estar nada bem, mas pelo menos eles estavam vivos e isso já me deixava bastante aliviada.

- Eu amo vocês, papai e mamãe. – eu disse antes de fechar a porta. Olhei pro lado e me senti horrível ao ver a dor estampada na cara de Erik, afinal ele tinha acabado de perder os pais e nem teve tempo de se despedir.

Caminhei pro quarto ao lado e abri a porta com cuidado para não acordar a pequena Julie. Ela tinha apenas 11 anos e parecia uma boneca. Ruivinha com bochechas rosadas, eu sempre imaginei que ela seria o terror do mundo adolescente masculino quando crescesse. Mas pra mim ela sempre seria apenas uma criança e eu daria minha vida para protegê-la. Se eu ao menos ainda tivesse uma.

Eu estava vendo-a dormir, nos braços de Erik, e pensando.

- Eu queria tanto saber o que ela está sonhando...

- Ela está sonhando com você. Como se você ainda estivesse viva.

Eu me virei pra ficar de frente pra ele com uma surpresa no olhar.

- Como você sabe? Poderes de novo? – ele fez uma careta sem graça. – Eu não consigo. – choraminguei.

- Ainda. Você só precisa treinar.

- E você treinou por acaso? – eu odiava admitir, mas Erik era quase um menino super dotado! Ele aprendia tudo em questão de segundos enquanto eu demorava horas...

- Mag??

Eu parei de respirar quando ouvi meu nome sussurrado por minha irmãzinha. Erik também estava pasmo com a situação. Julie estava acordada e me olhava surpresa.

- Isso ainda é um sonho?? Parece tão real... – ela disse ainda olhando pra nós dois.

Eu olhei pro Erik como se pedisse ajuda no que falar, mas ele parecia mais surpreso que eu. De repente percebi algo diferente nos olhos dele. Estavam ficando mais escuros... vermelhos...

- Erik!! – ele fez uma cara de quem ficou confuso com a minha reação. – Seus olhos.

Ele finalmente entendeu e abaixou a cabeça, completamente envergonhado, ficando de olhos fechados.

Eu me aproximei devagar da cama de Julie e ela não fez nada para impedir minha aproximação. Tadinha, ela ainda achava que era um sonho.

- Julie, sou eu, Mag.

- Eu sei quem você é. Eu te conheço há 11 anos. – ela sorriu do mesmo modo que sempre fazia quando implicava comigo.

- Eu não estou brincando. Sou eu de verdade, Julie. E isso não é um sonho.

- Mas não pode ser verdade. – ela ficou séria. – Você está...

- Morta, eu sei. – ela ficou espantada e se afastou de mim como se eu tivesse algo contagioso. Ops, eu estou morta. – Não, não se afaste! Eu não vou machucá-la.

- Erik, socorro!! Ela é um zumbi!!

Erik não disse nada. Ele apenas abriu os olhos e lançou um olhar pra mim de quem não sabia o que fazer.

- Eu não sou um zumbi, ou talvez seja, isso não importa agora. Eu quero que você prometa que não vai dizer a ninguém que me viu aqui essa noite, ok? Nem pra mamãe, nem pro papai.

- Mas você está aqui!! Como pode... ???

- Ah, minha pequena, eu também queria poder te dizer, mas a verdade é que eu não sei bem ainda. Eu apenas me tornei uma coisa que pensava que não existia e agora estou aqui em carne e osso, e parecendo mesmo uma ‘zumbi’.

Senti meu estômago roncar e pelos rostos ao redor todos também ouviram.

- Você está com fome? – surpreendentemente Julie segurou minha mão com suas duas mãos pequenas e depois fez um carinho em meu cabelo. – Você está tão pálida, Mag. Precisa comer alguma coisa. Vamos, eu levo vocês dois pra cozinha.

- Não Julie. Se papai acorda...

- Eles não vão acordar tão cedo. Eles foram dormir agora a pouco depois de passarem o dia na delegacia fazendo buscas por seu corpo desaparecido.

- Ih é mesmo. Eu fugi do necrotério. – de repente me dei conta da confusão que deve ter sido e lancei um olhar de repreensão pra Erik.

- O que é “necotério”?

- É onde a pessoa fica depois que morre. E é necrotério, mocinha. – Erik falou com Julie pela primeira vez depois que chegamos.

- Mas não é cemitério?? – ela perguntou confusa.

- Eu te explico outra hora. Vamos pra cozinha. – olhei pra Erik que estava com uma aparência muito pior que a minha. – Estamos literalmente mortos de fome.

Na cozinha, Julie abriu a geladeira e tirou alguns sacos de pães e condimentos, refrigerantes e sucos. Preparamos sanduíches no mais absoluto silêncio enquanto Julie nos observava com curiosidade e alegria.

- Você não está mesmo assustada? – perguntei pra ela. Diferente dela, eu estava MUITO assustada.

- Não mais. Agora eu sei que vampiros são reais. Eu sempre soube que não era só fantasia.

- Menina, você será a versão feminina do Einstein na escola! – Erik disse tentando soltar um riso, mas o que saiu foi uma tosse seca que nos deixou em desespero por dois motivos: 1 – Erik nunca ficava doente; 2 – foi barulho suficiente pra acordar meus pais no andar de cima.

Não demorou nem 2 minutos e ouvimos o som da porta do quarto dos nossos pais abrindo e passos vindos em direção à cozinha.

Capítulo 6 – Fugitiva

- Droga! – eu exclamei alto demais no meio do tumulto.

- Você dois, escondam-se! – Julie sussurrou.

No pouco tempo que tive pra decidir, me joguei embaixo da bancada da cozinha e rezei para que não resolvessem olhar bem onde eu estava. Procurei por algum sinal de Erik, mas ele não estava mais lá. Havia desaparecido.

Ouvi a voz da minha mãe e amoleci. Droga! Como eu queria voltar a ser uma humana saudável e abraçar minha mãe mais uma vez. Em vez disso, tampei minha boca com minhas mãos e esperei. Julie era inteligente demais, ela saberia se virar.

- Julie! O que está fazendo aqui há essa hora, mocinha?

- Mamãe, eu tive um sonho muito estranho. Eu sonhei com a Mag. – ouvi Julie fingir um choro (será que era mesmo só fingimento?) e senti minha mãe relaxar. Senti? Como assim? – Ela estava viva, mamãe. Eu quero a Mag de volta.

- Oh, querida, ela não vai voltar. Temos que conviver com isso a partir de agora. – ouvir o choro e o lamento da minha própria mãe foi a pior coisa que me aconteceu na vida/morte. Ela não precisava passar pro aquilo. Eu estava o tempo todo ali, quase ao seu lado!

Ouvi os passos das suas subirem as escadas e percebi que já estava sozinha. Eu poderia relaxar, mas como conseguiria depois daquilo? Fiquei congelada no mesmo lugar até sentir as mãos macias e geladas de Erik me puxando pra fora. Ele me pegou em seus braços e me levou pra fora da casa. O céu já não estava tão escuro, sinal de que a manhã estava quase chegando. E, definitivamente, isso não era um bom sinal.

- Você está bem? – ele me perguntou cuidadoso.

- Estou. – menti. – E você?

- Também. – ele também mentiu.

- Você se sente doente?

- Não. Não foi nada, foi só uma tosse, Maggie. – ele virou o rosto ao responder e eu sabia que ele estava me escondendo alguma coisa.

- Você pode me contar Erik. Somos só nós dois agora.

Ele considerou por um tempo enquanto caminhávamos entre as árvores do Central Park.

- É que tudo isso é tão estranho. Eu era um garoto normal, terminaria o colegial no fim do ano, entraria na faculdade e cursaria medicina. – ele soltou uma risada gostosa, a que eu mais adorava. – Muita ironia não é? Eu seria médico, Maggie. E agora? O que sou? Um monstro.

- Você não é nada disso, Erik. Você é um cara incrível, inteligente, lindo, gentil e quem eu amo. Você ainda pode ser tudo o que quiser.

- Não, não posso. Eu tinha um futuro pela frente e de repente algo aconteceu e eu fiquei assim.

De repente me lembrei de que eu não sabia como ele havia se tornado vampiro. Ele ainda não tinha entrado no assunto até aquele momento.

- Erik, do que você lembra? Antes de ter olhos vermelhos e dentes afiados?

- Antes do eclipse solar?

- Quem te transformou? Você precisa lembrar. Talvez a gente possa pedir ajuda a alguém.

- Ou quem sabe estamos correndo muito perigo.

- Por quê?

- Eu não consigo me lembrar.

- Tente.

- Não dá. Não dá, ok? Eu não me lembro. Eu estava na escola e... – ele hesitou e ficou mudo.

- E...?

- Eu me despedi de você e então teve o eclipse.

- Então foi durante o eclipse que alguém te transformou?

- Eu não sei!! Eu só me lembro de ter ido atrás de você e ter feito o que fiz. Mais nada, ok? Assunto encerrado.

Confesso que a atitude de Erik foi muito estranha. Ele nunca tinha falado daquele jeito. Ele sempre era gentil e educado e nunca, nunca mesmo se exaltava com ninguém. Tinha alguma coisa muito errada acontecendo e eu precisava descobrir o quanto antes. Ou algo muito pior poderia acontecer.

- Pra onde vamos? – eu quis saber.

Estávamos andando há horas e já deveríamos esta fora de Manhattan. O sol estava nascendo e os raios solares não nos queimaram como eu pensei que aconteceria. Apenas a claridade nos incomodava muito, a ponto de sequer conseguirmos abrir os olhos.

- Estamos indo pra New Jersey. Meus pais têm... tinham uma casa lá. Podemos ficar por lá durante o dia.

- Precisamos de óculos escuros. – eu o lembrei.

Pelo caminho, entrei em uma loja e comprei o primeiro par de óculos escuros que vi pela frente. Por eu ser mais forte em relação a humanos, mesmo a gente não entendendo o porquê, combinamos que eu seria a encarregada de comprar coisas sempre que precisássemos. Eu ainda não sentia tanta sede de sangue assim e isso era muito estranho, já que pela lenda, vampiros jovens tendem a ser sanguinários. Eu até conseguia conviver bem com os humanos, caso precisasse, mas não sabia até quando isso poderia durar.

Correndo e às vezes até ‘voando’, conseguimos chegar à casa dos pais do Erik em NJ. Erik tinha pegado a chave quando esteve em sua casa já imaginando que poderíamos precisar de abrigo. Ele abriu a porta e entramos. Fiquei de boca aberta quando vi o tamanho daquela sala. Era enorme!! Eu sempre soube que a família de Erik era bem rica, mas eles eram bem simples e simpáticos com todo mundo, sem ostentar aquele ar superior que a maioria dos ricos tinha.

Apesar de rico, Erik nunca tratou ninguém com superioridade e sempre se sentiu de igual para igual com todos.

- Gostou? – ele sorriu um pouco sem graça.

- UAL!! É incrível!! Essa casa é linda! – eu estava abobalhada com o luxo da residência.

- É linda mesmo.

- Por que vocês não moravam aqui então?

- Meu pai trabalha...va em Manhattan e gostava de ficar próximo de casa então eles decidiram ir pra lá e usarem essa casa daqui apenas para ocasiões especiais. – Erik entristeceu e eu o abracei demonstrando conforto.

- Não fique assim. Não foi culpa sua.

- Não foi? Então por que foram eles que morreram e não os seus?

Eu me assustei com o jeito dele de falar e o soltei do abraço abruptamente. Ele me olhou surpreso e se dando conta do que tinha dito.

- Droga! Eu fiz de novo, não é? Me desculpe, Maggie. Eu estou uma pilha de nervos. Não sei o que vou fazer daqui pra frente sem eles.

- Você tem a mim.

- Tem razão. – ele hesitou um pouco antes de abrir os braços em minha espera.

Depois que me recuperei do susto, cheguei perto dele e me rendi ao seu abraço. Ele estava sofrendo com isso muito mais do que eu, era visível, e eu estava sendo insensível. Os pais dele tinham morrido há menos de um dia! Ele estava em frangalhos, pobrezinho.

- Me perdoe, por favor.

- Tudo bem, eu não estou brava com você. Você só precisa descansar. Onde fica o seu quarto?

Ele me levou até o quarto dele que ficava no segundo andar da casa. Não havia nada de mais no quarto, pois ele não viva muito por lá. Só havia uma cama, uma escrivaninha com um laptop e um guarda-roupa. As janelas estavam fechadas e as cortinas eram escuras. Nós nem mexemos em nada.

- Vamos, deite-se.

Ele me obedeceu e se deitou na cama. Eu fiquei de pé sem saber o que fazer, muito sem graça.

- Venha, deite aqui comigo.

De novo, sem saber o que fazer. Ele me chamou pra cama??

- Eu não vou te morder, só quero abraçar você. Por favor, eu não vou conseguir dormir sem você aqui.

É, eu sou mesmo uma boba. Mas também não sou idiota e insensível. Deitei ao seu lado na cama e ele passou os braços pela minha cintura, me abraçando. Passei a mão em seus cabelos macios e fiz cafuné. Ele pareceu gostar e se acalmar, pois senti sua respiração ficar mais tranqüila. Em poucos minutos ele tinha caído no sono. Em seguida foi a minha vez e em pouco tempo estávamos os dois dormindo durante o dia.

Capítulo 7 – Pacto de Sangue

Quando abri os olhos, Erik estava sentado na cama de costas pra mim. Estranhei a posição que ele estava, pois parecia que estava apertando a barriga com os braços. Levantei rapidamente e corri pro outro lado da cama, para ver o que estava acontecendo.

- Erik? O que foi? Oh meu Deus! – quando vi seu rosto não tive dúvidas de que ele estava sofrendo. E muito.

- Não é nada.

- Como assim, NADA?? Você está quase transparente!

- É só uma dor. Arghhhhhh.... – ele começou a se contorcer de dor e eu me desesperei.

- Oh meu Deus, o que eu faço?? Você precisa ir para o hospital.

- Hospital?? Oh, por favor, nós não podemos... aiiiiiiii...

Eu já tinha lido livros de vampiros suficientes para entender o que estava acontecendo ali. Ele estava ficando fraco, muito fraco, e precisava se alimentar. Mas não de comida de gente humana, pelo jeito isso não adiantou pra ele da mesma forma do que pra mim, ele precisava de sangue.

Fui até a cozinha e abri todas as gavetas tentando achar o que eu precisava.

- Achei. – peguei a faca e corri de volta pro andar de cima. Erik estava irreconhecível de tanta dor e eu não pensei duas vezes antes de cortar meu pulso. Uma dor bem fraquinha percorreu meu braço, mas era tão insignificante que eu quase não senti. Uma linha vermelha começou a escorrer e pingar no tapete atraindo o olhar repreensivo de Erik.

- O que você fez??

- Tome, beba.

- Maggie, não.

- Não temos tempo. Beba. Eu agüento.

- Eu não vou fazer isso. Você não pode...

Antes que ele continuasse com o sermão, eu pressionei meu pulso cortado em seus lábios e ele não resistiu. Senti uma sensação diferente percorrendo meu corpo, ao mesmo tempo que uma dormência estranha percorria meu pulso meu corpo sentia... prazer. Isso, prazer. Eu nunca tinha sentido uma coisa tão gostosa antes e a medida que meu sangue ia sendo drenado os pêlos do meu corpo se arrepiavam. Erik já estava mais corado, ou pelo menos um pouco menos ‘transparente’, mas ainda não tinha sido suficiente. Ele continuava sugando meu sangue até não poder mais e eu comecei a sentir minhas pernas tremerem. Meu corpo ficava mais gelado e minha visão estava turva. Depois de alguns minutos naquela posição, meu corpo não agüentou e eu desmaiei.

Acordei deitada novamente na cama de Erik e a primeira visão que tive foram aqueles lindos e penetrantes olhos azuis olhando em minha direção. Seu rosto estava bem próximo ao meu enquanto ele passava um pano com algo quente em minha testa.

- Ufa! Até que enfim. – ele deixou espaçar um suspiro de alívio. – Eu já estava ficando morto de preocupação.

- Acho melhor a gente parar com essas piadinhas. Já está ficando sem graça. – eu tentei rir e me levantar ao mesmo tempo, mas meu corpo não me obedeceu.

- Fique deitada aí. Você ainda não está completamente recuperada.

- Você está bem?

- Me sinto melhor. Você me salvou. Agora eu devo a minha vida a você.

- Você fez de novo.

- O quê? – ele perguntou confuso.

- Piadinha.

- Ah, desculpe. Eu ainda não me acostumei com a idéia de que sou um morto-vivo. – ele deu o sorriso mais lindo do mundo e eu me deixei sorrir também ao vê-lo tão saudável novamente.

- Você está mesmo bem? Digo, meu sangue realmente fez efeito em você?

- Acho que sim. Eu não sinto mais dor. Obrigado, Maggie. – ele me deu um beijo rápido e ficou de pé ao lado da cama. – Já está tarde. Quer sair e comer alguma coisa? – eu o encarei sendo repreensiva mais uma vez. – Ops... desculpe.

- Erik, precisamos conversar sobre o que aconteceu aqui. – ele escondeu o sorriso e ficou sério de novo. – Precisamos de respostas e ao que parece só estamos tendo mais perguntas.

- Eu sei, eu sei. Eu também estou confuso.

- Eu não estou confusa, eu estou... preocupada. Por que você ficou daquele jeito? Por que você precisa de sangue e eu não? Por que você tem poderes e tudo o que eu consegui fazer até agora foi mexer meu pé?

- Hã?

- Deixa pra lá. Eu to querendo dizer que isso tudo está muito estranho. Eu não sou igual a você e precisamos saber o porquê. Antes que...

- Maggie, não vai acontecer nada com a gente, fica calma. Eu vou encontrar quem matou meus pais e vou descobrir tudo, confie em mim.

Tentei não lembrar da cena horrível que presenciei na casa dele no dia anterior, mas a imagem dos pais dele mortos na sala não saía da minha cabeça. Quem teria feito aquilo? Quem seriam os outros vampiros e por quê logo a família de Erik? Era muitas perguntas e até agora não tínhamos nada, nem sequer uma resposta.

Erik se sentou ao meu lado e levantou meu rosto com a mão. Encarei seu olhar assustado com mais medo do que eu poderia ter sentido na vida toda. A única coisa que me deixava tranqüila era estar ao lado de quem eu mais amava no mundo e saber que ele faria de tudo pra me proteger. Nós éramos feitos um para o outro e isso não era algo que a morte poderia destruir.

Senti seus lábios encontrarem os meus num beijo enlouquecedor. Eu nunca tinha sentido tanta vontade de tê-lo comigo antes como agora. Sem perceber, me peguei mordendo o lábio inferior dele até sentir um gostinho delicioso: era sangue. Entre um beijo e outro passei a mão pelos meus lábios e lambi os dedos. O sangue dele era de um sabor incrível, muito melhor que chocolate ou qualquer outro doce por qual eu era louca enquanto estava viva. Senti uma fisgada em meus lábios e percebi que ele havia feito o mesmo e também sugava meu sangue. Nossos beijos ficaram mais ardentes e os nossos sangues misturados davam um toque mais que picante. Os azuis dos olhos dele deram lugar ao vermelho-fogo assombroso que naquele momento pra mim se tornou muito sexy. Pela cara que ele fez, eu deveria estar bem parecida com ele naquele momento. Ah, como eu daria tudo pra me ver no espelho!

Com uma das mãos ele me segurou pela cintura e me deixou novamente na cama. Com a outra, ele acariciou meus cabelos e deslizou os dedos macios pelo meu pescoço. As marcas da primeira mordida continuavam lá e foi fácil ele encontrá-las novamente com seus caninos super afiados. A dor não importava naquele momento, era até gostosa de sentir. Mas ele percebeu que eu já estava fraca demais por ter perdido tanto sangue antes e parou. Foi a minha vez de agir. Passei a língua entre os dentes e senti duas pontas afiadas surgirem de repente. Ele me virou e eu fiquei por cima dele na cama. Erik já estava sem camisa e deixava a mostra seu corpo malhado de jogador de pólo aquático. Me dei conta de também já estar sem blusa quando encostei meu corpo no dele procurando sua jugular. Cravei meus dentes afiados em seu pescoço e ele urrou de prazer. A sensação do sangue dele correndo pelo meu corpo me deixou eufórica. Era como se eu tivesse recuperado todas as minhas forças com um só gole. Ele já estava tirando minha caça quando eu consegui pensar mais claro e perceber o que estávamos a ponto de fazer. Sexo. Eu nunca tinha feito sexo antes, portanto eu ‘morri’ virgem. E aparentemente eu continuava assim, certo? Erik não era o meu primeiro namorado, mas eu já estava com ele há um pouco mais de 5 anos e ainda não tinha acontecido nada assim entre nós. A gente se conheceu durante a infância e foi amor à primeira vista. Brega né? Mas acontece.

Quando hesitei pra pensar mais claramente, ele percebeu e me olhou surpreso.

- O que foi? – ele perguntou sem entender porque parei de beijá-lo e limpei meus lábios sujos de sangue com as costas da mão.

- Eu não sei... eu só... não me sinto pronta pra isso ainda. – saí de cima dele e me sentei ao lado dele na cama constrangida.

Diferente do que pensei que ele faria, na mesma hora ele se sentou também e me acolheu forte entre seus braços.

- Oh não, eu estraguei tudo, não é? Não fique assim, eu não queria te pressionar em nada, eu juro. Você não precisa fazer nada que não queria. Eu vou entender, é só me dizer quando parar.

- Não, não é isso. Eu quero, eu realmente quero. Mas não agora. Não na situação que estamos metidos agora. Eu não quero que esses poderes sobrenaturais de vampiros interfiram no que sentimos um pelo outro, você consegue entender?

- Sim, eu entendo você. Eu também não queria que fosse assim. – ele abaixou a cabeça, também constrangido.

- Está tudo bem, juro. Eu me sinto bem aqui com você. Você me completa.

- Que bom. – ele sorriu e me beijou delicadamente.

Ouvimos o som da campainha e nos assustamos. Olhei pro relógio e ele marcava 23:55hs da noite.

- Quem será? – aquela sensação ruim apareceu novamente. Isso não era um bom sinal.

- Eu vou lá embaixo ver. Fique aqui.

- Não, Erik, não! Não vá.

- Deve ser engano. Ninguém conhece meus pais aqui, nem mesmo os vizinhos.

- Então não vá, é sério. Eu estou com medo.

- Eu não demoro. – e ele saiu do quarto, me deixando sozinha e apavorada.

Capítulo 8 – Outros

Controlando meus poucos e ridículos poderes, consegui sair do quarto e ir atrás dele sem que ele me visse. Ele já tinha descido as escadas e estava destrancando a porta. Resolvi descer também e ele se virou quando eu apareci no pé da escada.

- Eu te disse para não vir. Não tem ninguém aqui. Deve ter sido algum engraçadinho.

- Eu estou com medo, Erik.

Ele fechou a porta sob o barulho do vento e venho em minha direção.

- Venha, me abrace. Estamos seguros aqui.

Voltamos pro quarto, mas não tínhamos sono depois de passarmos quase o dia todo dormindo. Trocar o dia pela noite?? Realmente isso é coisa de vampiro.

Já que não tínhamos o que fazer, resolvemos pensar no próximo passo.

- E se voltássemos pra Manhattan, pelo menos por um tempo? Você poderia voltar pra escola e fingir ser um adolescente normal. Pelo menos até a gente encontrar os outros vampiros.

- Não é uma má idéia. – ele considerou a minha proposta e ligou a TV no canal de notícias.

- Assim eu posso visitar minha família de vez em quando para ver como eles estão.

- Maggie, você sabe que não poderá voltar lá.

- Não como humana, eu sei. Eu posso arrumar um lugar pra ficar durante o dia e eu os visito quando estiverem dormindo. Quem sabe não dá certo.

Erik tentava outras idéias, mas eu não estava mais o ouvindo. Algo na TV me chamava a atenção.

- Aumente o volume.

- O que?

- Aumente o volume da TV. Olhe.  – apontei pra cena que passava na TV e ele virou pra olhar.

O apresentador do canal de notícias dizia enquanto cenas de um casal bem familiar passavam na TV: “Ontem a noite foram achados dois corpos em uma residência na Madison Square vítimas de uma violência incomum. Os corpos eram de Robert e Judith Wood e tinham cortes na garganta, dois furos iguais no pescoço e uma estaca de madeira no peito. Os assassinatos foram exatamente iguais para cada um do casal e a polícia está a procura de suspeitos pelo crime. O filho único do casal, Erik Wood de 18 anos ainda está desaparecido e a polícia não tem pistas que levem onde ele está. O caso está sendo tratado como homicídio ligado a alguma seita satânica pela polícia local.(...)”

- Oh meu Deus!!! – foi tudo o que consegui dizer. – Espere, não acabou.

“Além do filho do casal assassinado, mais 4 pessoas estão desaparecidas desde ontem, após o eclipse solar que apareceu repentinamente em grande parte do planeta. Os nomes dos desaparecidos são: Tyler Grint, Paul McNight, Elisabeth Lowndes e Blake Green e todos eram estudantes da Spartan High School, em Manhattan. (...)”

- Elisa?? Ela era da minha turma! – gritei chocada. – Será que...

- Pode ser. Ou também pode ser só coincidência.

- Coincidência, Erik?? Alguma coisa ultimamente tem parecido ser coincidência pra você?? E se todos estiveram se tornando vampiros? E se foi algum deles que matou seus pais?

Erik ficou calado por um tempo e eu conhecia bem aquela cara que ele fazia quando estava pensativo demais. Ele frisava os lábios e sua testa adquiria um ar mais sombrio.

- Vamos voltar.

A resposta que eu precisava. Que alívio. Eu poderia ter certeza de que minha família estava bem e não sofrer tanto por estar tão longe e sem notícias.

Arrumamos nossas coisas (que não eram muitas) e abandonamos a casa. A madrugada era uma aliada nossa e podíamos correr tranquilamente pelas avenidas desertas de New Jersey. A viagem não foi tão longa dessa vez, pois estávamos com pressa. Chegamos em Manhattan em pouquíssimo tempo e invadimos a primeira casa abandonada que vimos. Precisávamos inventar uma história para o sumiço de Erik antes que nos vissem juntos. Decidimos que ele teria fugido de casa e ido passar um tempo na casa de tios distantes, mas resolveu voltar ao ver a notícia de seu sumiço na TV.

- Eu vou voltar em casa, ver como estão as coisas por lá sem a polícia.

- Você tem certeza de que consegue ir sozinho?

- Eu preciso tentar, precisamos arriscar. Você não pode ser vista por ninguém e eu posso fingir que estou de volta.

Mesmo um pouco nervosa com o plano, concordei. Era o melhor a se fazer naquele momento e não tínhamos outra opção. Erik se despediu de mim com um beijo e saiu. Eu fiquei sozinha naquela casa abandonada esperando um novo dia aparecer.

Capítulo 9 – Visita Inesperada

O movimento ao redor da casa era mínimo, levando em conta que escolhemos uma rua onde muitas casas ainda estavam em construção e aquela onde eu estava provavelmente seria demolida em breve para dar lugar a uma casa nova. Esperei por horas sentada no chão de assoalho da madeira fria enquanto Erik não aparecia. Tentei dormir um pouco para que o tempo passasse mais rápido, mas todas as tentativas foram em vão.

Quando o sol já estava surgindo no horizonte, ele finalmente apareceu. Ele estava vestido com roupas diferentes, mais parecidas com as que ele costumava usar para ir à escola e uma mochila nas costas. Usava também óculos escuros, que ele tirou assim que entrou em casa. Ele não aparentava cansaço por estar tanto tempo sem dormir, mas seus olhos estavam mais escuros que o normal.

- Olá, deu tudo certo? – eu já estava sem unhas de tão apreensiva.

- Sim, nenhum sinal da polícia por lá.

- Então podemos ficar lá?

- Acho que sim, mas você não pode ir agora. As pessoas já estão começando a acordar e se virem você... vai ser uma grande confusão, não acha?

- Você tem razão. – eu entristeci. Droga, eu não agüentava mais ficar trancada naquela casa horrível.

- Não fique triste, ok? Eu vou tentar fingir o melhor que posso e volto pra te buscar mais tarde.

- Eu não quero ficar aqui. Esse lugar me dá arrepios.

- Eu não demoro. Descanse um pouco, ok? Eu te amo.

- Também te amo.

Eu adorava quando ele dizia que me amava. Era tão bom ouvir isso dele e saber que seríamos um do outro pra sempre. Mas após ele ter saído, o medo voltou e só de lembrar que a qualquer instante alguém poderia me achar eu gelava ainda mais. Caminhei até o banheiro da casa e encontrei um espelho coberto de poeira. Limpei com as mãos e ao ver meu reflexo levei um baita susto.

- Oh merda! Meu cabelo está horrível!

 Em falta de escova, desfiz os nós com meus dedos e decidi o que faria pra passar o tempo. Tranças.

Já eram 16h da tarde quando eu comecei a achar estranha a demora toda de Erik. As aulas dele acabavam às 15h e até onde eu estava era menos do que 15 minutos. Onde ele estava?

Ouvi 3 batidas na porta de madeira e fiquei aliviada. Deve ser ele. Só podia ser ele.

Andei até a sala e abri a porta contente, mas fui pega de surpresa por alguém que só tinha visto algumas vezes. Ele me segurou pelo pescoço prendendo meu corpo na parede logo depois que fechou a porta, numa velocidade incrível.

- Tyler?? É você? – fiz força pra perguntar enquanto a mão forte dele apertava minha garganta.

- Então você também é como nós agora. É uma vampira. – ele tinha um sorriso cruel no rosto e me olhava com curiosidade.

- Me solte, pro favor. Eu não sei do que você está falando.

- Não brinque comigo, garota. Eu tenho poderes. Eu consigo sentir você de longe.

- Você... está... me... machucando.

Apesar de não sentir tanta dor, era incômodo ficar suspensa no ar por um brutamonte daquele. Ele tinha o dobro do meu tamanho e era mais ou menos da altura do Erik. Ah Erik, onde está você?

Ele me jogou no chão com força e se eu não fosse tão forte eu teria quebrado todos os meus ossos com a batida. Passei a mão atrás da cabeça e quando tirei ela estava suja de sangue. Tyler pareceu estar confuso, pois ele hesitou assim como Erik, antes de voltar a falar.

- Então a namoradinha do Erik não é uma morta-viva completa, não é? Que interessante.

- Como assim?? – agora eu que fiquei confusa. O que eu era afinal? Uma completa aberração??

- Você não...

Mas ele foi interrompido pelo barulho da porta sendo aberta e antes que eu pudesse piscar ele desapareceu. Erik ficou assustado ao me ver no chão e sangrando e estava ao meu lado na velocidade da minha respiração.

- O que aconteceu com você??

- O Tyler esteve aqui.

- O que????? O que ele queria com você?

- Eu não sei, ele não disse.

- Ele machucou você?

- Sim, mas eu estou bem. – Erik me ajudou a levantar e eu esfreguei a garganta algumas vezes para avisar o desconforto.

- Você está sangrando. – ele me olhava espantado.

- O que foi? Eu também sangrei quando você me mordeu.

- Mas isso é estranho. Olhe. – ele pegou uma faca de cozinha e voltou pra sala. Em seguida fez um corte com a faca em seu braço e o corte imediatamente se fechou.

- Oh meu Deus! O que foi isso? – perguntei assustada.

- Eu posso me recompor. Minha pele, tecidos, tudo. Se eu me cortar ou me machucar e deixar aberto automaticamente ele fecha. Só é diferente quando mordemos, as marcas ficam por causa do veneno.

- E como você sabe disso tudo?? – eu estava realmente confusa.

- Eu andei lendo. Na verdade, eu li alguns livros hoje na biblioteca, por isso demorei tanto. Agora me lembro que você sangrou quando se cortou para me salvar. - como poderíamos esquecer da primeira vez em que ele bebeu meu sangue?? - Eu devia estar grogue, por isso não me lembrava.

- Então isso quer dizer que... eu não sou normal? – ele fez uma careta que comprovou o que eu disse. – Quer dizer, eu não sou mesmo como os outros vampiros?? Mas por quê?? Por que logo eu?

- Eu não sei, Maggie. Mas isso é mesmo muito estranho.


- O Tyler tinha razão então.

- Com o que??

- Ele me viu sangrar e disse que eu não era tão morta-viva assim. O que isso quer dizer afinal? Eu morri!

- Eu preciso te tirar daqui. Se ele te achou, outros também podem te achar. Vamos.

- Mas está dia ainda.

- Vista isso. – ele tirou um outro casaco com capuz da mochila e me deu. – Pelo menos vai disfarçar um pouco.

- E pra onde vamos?

- Para a sua casa.

Capítulo 10 – Voltando para casa

Mesmo sem ainda acreditar no que faríamos a seguir, eu resolvi seguir o plano e fomos para a minha antiga casa, quando eu ainda era uma adolescente viva e bonita. Pelo menos eu ia ter meus cremes especiais para cabelos de volta (se minhas coisas ainda estivessem lá, é claro).

Ainda não tinha escurecido, mas meus pais já deveriam estar em casa naquele horário. Eles sempre chegavam cedo do trabalho. Julie também já deveria estar em casa e pelo menos eu teria com quem conversar (se ela ainda não achasse que a minha ‘aparição’ tivesse sido apenas um sonho).

Entramos pela janela do meu antigo quarto, que tinha entrada pelos fundos da casa. Graças a Deus tudo ainda estava no mesmo lugar, minhas roupas, minha cama, tudo igualzinho. No fundo eu queria que meus pais superassem a minha morte repentina, mas no momento eles poderiam deixar tudo como estava que eu agradeceria. Erik entrou comigo pela janela. Ele já tinha perdido a conta de quantas vezes tinha feito aquilo quando éramos ‘normais’.

Olhar tudo aquilo me dava um aperto tão grande... saber que eu nunca mais teria minha vida de volta, que nunca mais poderia ficar até tarde deitada em minha cama ouvindo meu MP3 esperando minha mãe vir me mandar desligar tudo e ir dormir. Era tão triste...

Erik percebeu o clima e me abraçou por trás, como ele sempre fazia. Ele apoiou o queixo na minha cabeça e depois me deu um beijo carinhoso.

- Não se preocupe. Eu vou resolver tudo, Maggie.

- Não tem jeito, Erik. Nada mais vai voltar a ser como antes. Nada.

Eu sabia que ele não queria demonstrar que achava o mesmo que eu e que mais uma vez eu estava certa, mas dessa vez ele não teve como fingir. A tensão instalada nele me dizia tudo. Nós nunca mais seríamos humanos novamente e tudo o que vivemos e quem amamos teria que ser deixado pra trás. Ele pareceu pensar o mesmo e me apertou ainda mais forte em seus braços.

- Eu preciso ir. Vou até a polícia contar o que inventamos. Não podemos levantar mais suspeitas.

- Por favor, Erik, tenha cuidado.

- Eu terei.

- Eu digo com o Tyler. Ele parecia furioso com alguma coisa.

- Eu terei cuidado, prometo. – ele me deu um beijo e fez um carinho em meu cabelo. – Eu voltarei mais tarde. Te amo.

E saiu me deixando sozinha pela segunda vez no dia. Esperei as horas passarem e quando tive certeza de que todos estavam dormindo eu abri a porta bem devagar sem fazer nenhum barulho. Olhei no corredor e estava tudo tranqüilo. Imaginei o que meus pais fariam se me vissem andando pelo corredor durante a madrugada. Acho que meu pai enfartaria e minha mãe gritaria achando que eu fosse algum fantasma. Bom, o importante era que eu não queria que isso acontecesse de jeito nenhum e precisei de muita concentração para me tornar quase invisível.

Caminhei até o quarto de Julie e entrei. Pra minha surpresa, ela estava acordada e me lançou um olhar de onde estava, sentada na cama.

- Julie! O que faz acordada?

- Eu sabia! Eu sabia que não tinha sido um sonho. Você é mesmo real! – ela exibia uma cara de satisfação misturada com surpresa.

- Sou sim, mas não grite. Lembre-se do que eu te pedi. Ninguém pode saber que estou aqui.

- Tudo bem, me desculpe. – ela ficou rosada de vergonha. – Mas onde você estava?

- Em meu quarto.

- Esse tempo todo?? – ela fez uma cara de espanto.

- Não, na verdade eu cheguei há apenas algumas horas.

- Nossa!! E o Erik, veio com você?

- Ele virá mais tarde.

- Você está com fome? – pro meu espanto, ela tirou uma caixa de debaixo da cama repleta de biscoitos, sanduíches e guloseimas.

- Julie, o que é isso??

- Comida ué. – ela riu da minha cara. – Eu deixei aqui no caso de você voltar a aparecer pra mim.

- Oh minha linda, eu não sei como você pode ser tão esperta. A sua irmã está tão enrascada.

- Me conta. O que aconteceu com você? Você não morreu?

- Eu morri sim, mas não sei bem o que aconteceu. Eu me tornei uma vampira, mas ainda sinto como se fosse humana. Eu não preciso beber sangue para me alimentar, um simples sanduíche resolve, mas eu também quase não sinto fome.

- E o Erik? Ele também é um vamp?

- É sim. Mas ele é diferente. Ele tem poderes e é um vampiro de verdade, diferente de mim.

- Ual!! Que legal!!

- Julie, a cidade toda está correndo um grande perigo e eu só posso contar com você pra me ajudar nessa. Eu e Erik não somos os únicos. Existem mais alguns vampiros por aí e nem todos são bonzinhos como nós, você me entende?

- Sim. – ela balançou a cabeça concordando. – E o que eu tenho que fazer?

- Proteja mamãe e papai, ok? Mas não conte nada a eles ainda. Eles não precisam ficar mais assustados nem mais tristes do que já estão.

- Ok.

- E quando quiser me ver, eu estarei no meu antigo quarto. Só não deixe ninguém entrar lá além de você, ok?

- Pode deixar.

Eu me levantei, ainda segurando um sanduíche e depois pacotes de biscoito nas mãos, e andei em direção a porta.

- Hey, Mag? – eu me virei curiosa. – Aquele quarto sempre será seu, ok? Eu te amo.

- Eu também te amo, irmãzinha.

Voltei para o meu quarto com os olhos ardendo. Malditas lágrimas que não vêem!

Deitei em minha cama e encarei o teto pintado. Um segundo depois Erik estava ao meu lado.

- Como você faz isso? Você desaparece e aparece num passe de mágicas. – reclamei fazendo biquinho. Na verdade, eu estava era com inveja.

- Eu já disse que adoro esses seus lábios?

- Não, mas pode dizer agora. Eu não ligo. – eu adorava fazer charme pra ele. Era tão sexy.

- Pois eu adoro esses seus lábios, sua boca, seu corpo, seu sangue...

Erik me deu outro daqueles beijos de tirar o fôlego e mordeu de leve meu lábio inferior, mas dessa vez não saiu sangue, apenas beliscou.

- Como foi lá? Na delegacia?

- Tudo certo. Eles acreditaram em mim e não vão me procurar mais. Agora eu sou oficialmente órfão.

- Erik...

- Não se preocupe. Eu preciso superar isso. Não vai adiantar nada eu ficar me lamentando. Eu preciso agir.

- Temos que ter cuidado. O Tyler pode saber alguma coisa, mas ele é muito mais forte que nós.

- Não, ele não é. Eu posso tomar conta dele.

- Erik, não...

- Eu descobri uma coisa. – ele tirou um livro grosso da mochila e colocou em cima da minha cama. – Aqui vem explicando como matar vampiros. Eu só preciso de algumas coisas.

- Você não acha que é muito arriscado? E se ele estiver mesmo junto com os outros? E se houverem muito mais que apenas 4 deles?

- Eu matarei todos.

- Eu estou com medo. Não sei o que faria se perdesse você.

- Nada vai nos acontecer, meu amor. Nós vamos sobreviver a isso, você vai ver.

Naquela noite, Erik ficou comigo deitado em minha cama. Diferente da noite anterior, em New Jersey, nós não fizemos absolutamente nada. Passamos as horas em silêncio absoluto, apreciando o momento a sós que estávamos tendo e pensando em como ficariam nossas vidas se sobrevivêssemos ao ‘confronto’.

No livro não encontramos muitas respostas para as perguntas que tínhamos, mas pelo menos achamos uma dica do que fazer para matar vampiros maus. Madeira e fogo.

Resolvemos que da próxima vez que Tyler aparecesse, nós estaríamos preparados para uma batalha e que ele não sairia vivo ou seja lá o que ele fosse.

Capítulo 11 – Nosso Plano

Erik me avisou também que mais 2 pessoas da escola estavam desaparecidas e já estavam tratando o caso como seqüestros em série, mesmo que nenhum seqüestrador tivesse entrado em contato com as famílias.

Na manhã seguinte, Erik saiu cedo pra ir à escola e desempenhar mais uma vez se papel de menino normal e eu continuei trancada em casa. Julie apareceu antes de ir pra escola pra me desejar boa sorte e deixar mais alguns sanduíches. Ela era um verdadeiro anjinho.

Passei o dia ouvindo música e tendo o cuidado de não tirar nada do lugar. Se alguém percebesse que algo tivesse desaparecido seria muito bizarro. Dormi um pouco durante o dia e à noite eu esperei Erik aparecer até as 20h, mas ele não apareceu.

Eu já estava ficando roxa de tão nervosa e resolvi não esperar mais. Eu precisava encontrá-lo de algum jeito. Pulei pela janela e andei por trás dos arbustos sem ser vista. A casa dele não ficava tão longe da minha e eu poderia facilmente chegar lá em minutos. As luzes estavam escuras novamente e eu comecei a ter medo. A cena me trouxe péssimas recordações, mas era Erik lá dentro e eu precisava entrar.

Entrei pela porta dos fundos como fiz da outra vez. Dessa vez nenhum sinal dele na cozinha. Gritei seu nome algumas vezes pela casa, mas ele não respondeu.

- Será que ele não está aqui? – perguntei a mim mesma.

Mãos me puxaram pra trás e tamparam minha boca com força. Eu não reconheci os braços que me prenderam e me apertavam os pulsos.

- Shiiii. Fique quietinha que nada vai te acontecer. – a voz feminina disse rente ao meu ouvido. Eu achei ter reconhecido aquela voz de algum lugar.

A pessoa desconhecida me colocou sentada em uma cadeira e amarrou meus braços com uma fita. Quando ela ficou na minha frente, eu finalmente a reconheci.

- Elisa??

- Elisabeth. Nada de Elisa pra você.

- Mas nós estudávamos juntas! Não é possível que você não se lembre.

- Cala a boca! Eu mandei você ficar quietinha!

Elisabeth colocou uma fita em minha boca e eu continuava sem acreditar em como ela estava diferente. Seus olhos eram de um vermelho-fogo intenso e sua aparência nada lembrava aquela menina ingênua das aulas de inglês.

Eu fiquei mais espantada quando vi que ela não estava sozinha. Blake apareceu ao seu lado com o mesmo vermelho-fogo nos olhos. Ele sorria pra mim do mesmo jeito cruel que Tyler tinha feito antes.

- Ora, ora, a doce Margareth também se tornou uma de nós. – ele sorria e se divertia.

- Mas Blake, como isso pode ter acontecido? Tyler não nos disse que... – Elisa encarou Blake com uma confusão no olhar que eu pude perceber facilmente.

- Calada! Ela não sabe de nada... – ele a repreendeu.

Fiquei imaginando o que existia de tão estranho para que eles agissem daquela maneira. O que tinha acontecido afinal? Porque era tão espantoso eu ser uma vampira também?

Meus pensamentos foram distraídos por um barulho vindo das escadas que levavam ao segundo andar. Em seguida, Tyler e Paul apareceram arrastando Erik desmaiado entre os braços. Erik estava de cabeça baixa então foi difícil de saber se ele estava muito ferido. Ele tinha sangue em sua camisa, mas Paul também tinha então eu imaginei que eles tivessem brigado. Não havia nenhum ferimento aparente em nenhum dos dois, mas também pudera - eles se curavam rápido.

Tentei gritar, mas a fita me impedia. Meus olhos arderam com vontade de chorar.

- Achamos essa daqui entrando na casa. – Elisa disse cheia de satisfação. – Ela estava procurando esse daí.

- Muito bem, Elisabeth. – Tyler agradeceu sorrindo e Elisa ‘se derreteu’ por ele. Droga, por que garotas apaixonadas são sempre tão idiotas? – Paul, coloque Erik amarrado no sofá.

Imediatamente, como se estivesse sendo controlado, Paul segurou Erik com os braços e o jogou de costas no sofá. De relance eu pude ver o rosto dele e sem ninguém perceber ele abriu os olhos. Ele piscou pra mim e fechou os olhos novamente. Senti uma ponta de alegria ao ver que ele estava bem. Tá, não tão bem assim, mas pelo menos continuava vivo. Droga, quanta ironia.

Paul amarrou suas mãos nas costas como Elisa tinha feito comigo. Tyler observava tudo de longe com um sorriso de satisfação estampado no rosto.

Fechei os olhos e tentei me concentrar. Eu tinha que fazer alguma coisa antes que... antes que... sei lá, antes que acabássemos mortos de verdade. E definitivamente.

Tentei chamar algum sinal de poder que eu tivesse dentro de mim, mesmo sem saber que diabos eu poderia fazer. Ora, se eu podia me soltar do feitiço do Erik eu também poderia me soltar de uma simples fita, não poderia? Me concentrei na cena da fita sendo rasgada, como eu já havia visto em vários filmes de suspense, e imaginei a cena com todas as minhas forças. Senti a fita se afrouxar, e incrivelmente percebi que estava fazendo a coisa certa. Só faltava um pouco mais de concentração...

Mas antes que eu pudesse conseguir, Tyler tirou a camisa e eu pude ver que havia um revólver de verdade e uma faca esculpida em madeira presos em sua cintura. Eu também não era a única espantada ali, os outros três também ficaram de olhos arregalados quando perceberam o que Tyler iria fazer.

- Ty, o que você vai fazer cara? – Blake perguntou com medo. – Pra quê isso?

- Eu vou terminar o meu plano. – ele respondeu seco.

Capítulo 12 – O Meu Fim

Como num filme de terror, Tyler pegou a faca e enfiou no coração de Blake, que caiu no chão se contorcendo. Elisa começou a gritar e tentar correr, mas foi a segunda a ser atingida da mesma forma. Antes de morrer, ela me lançou um olhar como se pedisse desculpas por tudo. Paul, que ainda estava ao lado de Erik no sofá, se levantou e quase teve sorte. Ele tentou fugir pela janela, mas foi atingido por um tiro. Todos nós sabíamos que uma bala de verdade não seria o suficiente para matar um vampiro, mas em seguida Tyler andou até ele e cravou a faca em seu coração.

Enquanto eu assistia toda a cena, nem percebi que Erik não estava mais no sofá. Ele tinha se soltado da fita (com seus poderes muito melhores que os meus) e venho me ajudar. Em segundos ele estava atrás de mim, soltando meus braços e tirando a fita da minha boca.

- Você está bem? – ele me perguntou e eu balancei a cabeça concordando.

Só tive tempo de sentir seus lábios pela última vez antes que Tyler o jogasse pra longe, fazendo-o bater bem forte na parede da sala.

- Erik!!!! – gritei desesperada e me lancei em sua direção, mas também fui jogada pra longe.

- Não se mexa!! – Tyler gritou e eu paralisei como na vez com Erik. – Você não tem nada a ver com isso. Eu só preciso que ele morra.

- Por quê?? O que ele fez pra você?? – eu gritei tentando desviar sua atenção e esperando que Erik desse sinal de vida.

- Não podem existir dois poderosos nesse mundo. Apenas eu. Portanto, ele deve morrer. – Tyler disse confiante.

- Mas ele não teve culpa! Ele nem sabe por que ficou assim!

Parece que finalmente consegui atrair sua atenção somente pra mim. Tyler virou em minha direção, e com uma cara assustadora começou a me explicar.

- Ele não te contou, não é? Como realmente virou um vampiro? – vendo que eu estava muito surpresa, ele continuou. – Um dia antes do eclipse, Erik me ganhou no jogo de pólo. Nosso time estava vencendo, mas ele fez o ponto que o time dele precisava pra vencer. No fim da aula, eu fui até ele pedir uma revanche e ele me humilhou, não aceitou minha proposta. Eu decidi que aquilo não iria ficar assim e pus em prática meu plano. Junto com eles (e ele apontou pros 3 mortos na sala), fizemos um pacto com o próprio demônio para nos tornamos poderosos e eu finalmente consegui. No dia do eclipse, eu me tornei poderoso. Desafiei Erik novamente e durante a briga, eu o mordi. Eu o queria morto.

Eu arfei e coloquei as mãos sobre a boca. Era demais ouvir tudo aquilo. Era quase um roteiro de filme de terror.

- Eu não imaginei que ele fosse virar um de nós. – ele continuou também confuso por tudo.

- E você acha que ele merece morrer por causa disso??

- Sim, eu acho.

- Por que você matou os pais dele??

- Quando acordei eu senti uma sede que nunca havia sentido antes. Eu precisava de sangue. E queria vingança. O que eu poderia fazer se eles eram tão... apetitosos? – ele riu cruel novamente.

Pisquei surpresa e chocada com a revelação. Como ele poderia ser tão insensível?? Em um piscar de olhos, Erik estava ao seu lado e agarrou seu pescoço por trás. Eu arfei de medo, mas ainda não conseguia me mexer pra sair de onde estava.

- Isso é pelos meus pais. – Erik disse depois de dar um soco em Tyler.

A luta dos dois se tornava intensa e cada vez mais eu via o quanto eles eram igualmente poderosos. Erik era veloz como um raio e Tyler também não ficava pra trás.

Os olhos de Erik eram vermelho-fogo novamente e eu via a raiva estampada em seu rosto. Ele estava furioso com Tyler e isso não era bom. Quando Erik sentia raiva de alguma coisa, ele não pensava direito. Ele agia.

A sensação ruim de que algo ia acontecer me invadiu de novo e eu tremi dos pés a cabeça. Fechei os olhos e me concentrei. Eu precisava agir rápido ou Erik iria morrer. Fazia muito tempo que ele não dormia nem se alimentava. Ele estava fraco, eu podia sentir. Ele não ia vencer aquela luta se eu não o ajudasse. E eu faria qualquer coisa para que ele sobrevivesse.

Senti minhas pernas me obedecerem e consegui me mexer finalmente. Erik estava no chão depois de ser jogado pra longe mais uma vez. Corri em sua direção e o abracei. Quando ele percebeu o que eu estava fazendo, ele gritou.

- Maggie, não!! Você não pode! Esconda-se e...

Eu não o deixei terminar. O beijei como nunca tinha feito antes, tentando demonstrar todo o meu amor em uma só ação. Ele retribuiu o beijo com intensidade e disse que me amava baixinho entre meus lábios.

Um gosto de sangue invadiu minha boca e só então percebi que não era dele e sim, o meu sangue. Uma dor interminável surgiu em minhas costas e o sangue que eu não deveria ter começou a escorrer. E como já era ciente de todos, a ferida não fecharia.

- Não!!!!! Maggie, não!!!!!!!

A dor diminuiu, mas a sensação de escuridão não. Ouvi a voz de Erik ficar distante e a última vez que o vi, ele estava chorando. Como isso era possível??

- Eu te amo, Maggie. Por favor, não me deixe...

Depois tudo virou escuridão. Não como o eclipse. Mas escuridão total.

Capítulo 13 – Final 1 - O Amor É Algo Cruel...

Dessa vez eu não acordei mais. Foi realmente o fim pra mim. Erik matou Tyler com a faca de madeira que estava caída no chão durante a briga. A arma usada para me matar continuava no chão. Erik não queria acreditar no que tinha ouvido de Tyler antes dele morrer. Infelizmente, era tudo verdade.

“Ela não é totalmente uma vampira. Ela ainda é meio humana. Eu não tinha certeza disso antes de atirar. Você não a transformou totalmente, Erik. Ela morreu quando era humana e se tornou vampira depois. Ela é diferente de todos nós.” E depois ele morreu, deixando Erik sozinho naquela casa que cheirava a morte.

Erik carregou meu corpo para o lugar mais longe que conseguiu. Chorou como uma criança após ter perdido os pais e a namorada que tanto amava. Depois decidiu que ainda era tempo de me entregar a surpresa que havia prometido antes de tudo começar.

Ele me levou a um jardim que havia crescido no alto de uma montanha e que ele havia descoberto naquela manhã do dia do eclipse. Entre suas pesquisas pela internet, ele encontrou um lugar mágico escondido entre a civilização de New York e decidiu que era o lugar ideal para me pedir em casamento. Okay, éramos muito jovens demais para nos casar, mas quem precisaria saber disso além de nós dois? No momento certo diríamos a todos e nos casaríamos. Teríamos nossa casa, nosso jardim e nossos filhos. Ah, e também seríamos felizes para sempre. Pena que nada disso aconteceu. E Erik agora estava sozinho.

Ele deitou meu corpo em cima das flores e beijou meus lábios sujos de sangue. Tirou do bolso uma caixinha que estava com ele desde o dia que tudo começou e a abriu. Era um lindo anel que continha nossos dois nomes juntos e um desenho de coração simbolizando nosso amor. Com delicadeza, ele colocou o anel em meu dedo e depois beijou minha mão. Limpando as lágrimas que caíram em seu rosto pálido, ele fechou os olhos e rezou. Depois tirou as mechas de cabelo vermelho que cobriam meu pescoço e olhou durante alguns minutos para as duas marcas de furo que brilhavam na minha jugular. Erik se aproximou e cravou seus dentes afiados em meu pescoço, sentindo o sabor do meu sangue pela última vez.

E em seu último ato em vida (ou em morte, como preferirem), ele retirou do casaco uma faca parecida com a de Tyler, feita em madeira e bem afiada. Inclinou a faca em direção a seu peito e deu um último suspiro. Depois, se matou. Seu corpo caiu ao lado do meu e finalmente, ficamos juntos pra sempre.

“O amor é algo cruel
É um em um milhão
Antes que você saiba
Ele vai ir e vir
Tão rápido
E o coração não pode estar vazio
É elementar
Como uma arma carregada
O amor é algo cruel
(...)
Nosso mundo perfeito se desintegrou
Eu te segurei perto para nosso último beijo
Agora todas as cores que uma vez brilharam viraram branco
Então eu fecho meus olhos e sonho
Com você hoje à noite... (...)”


(Cruel One – Alex Band)


Capítulo 14 – Final 2 –Vida Eterna

Quando abri os olhos me deparei na imensidão daqueles olhos azuis pelos quais me apaixonei. Pensei ter morrido e estar no céu, mas haveria céu para vampiros?
A dor que queimava minha pele antes agora não existia mais. Erik me olhava com lágrimas nos olhos, o que deveria ser impossível de acontecer com vampiros. Chorar. Lembrei que a última cena vista pro mim antes de ‘apagar’ foi Erik chorando. Por mim. Aí então me lembrei de tudo, ou pelo menos de grande parte.

- Erik...

- Oh Maggie, eu te amo tanto... – ele me segurou em seus braços em um abraço apertado e eu quase fiquei sem ar.

Quando ele me soltou, eu olhei para minha roupa ainda ensangüentada, mas não havia nenhum ferimento lá. Eu estava bem e sem nenhuma marca de bala. Fiquei confusa demais. Eu estava morrendo, eu não devia estar tão bem.

- Como é possível?? O que aconteceu?

Ele me encarou sério, escondendo o sorriso que eu tanto amava e me dando em troca aquela cara que ele fazia sempre quando estava envergonhado. Erik se sentou ao meu lado e colocou as mãos apoiadas nos joelhos.

- Eu não sei como explicar.

- Tente. Eu não entendo. Era pra eu estar...

- Morta. Sim, você morreu. De verdade.

- Mas então como...

- Eu te curei.

- O quê??

- Eu não sei como fiz aquilo, mas... eu consegui tirar a sua bala sem tocar em você. Também estanquei seu sangue e fechei as marcas...

- Erik... – eu estava MUITO chocada com aquela revelação. E agora? Meu namorado virou um curandeiro também?? – O que você fez exatamente?

- Eu apenas coloquei a mão sobre seu coração, ou no lugar que ele deveria bater, e desejei não te perder nunca. Ter você de volta pra mim. – as lágrimas que haviam secado estavam de volta aos seus olhos azuis.

Arregalei os olhos incrédula com o que estava ouvindo. Ual! Agora ele também poderia curar. Incrível!

- Erik, isso é... incrível! – ele se virou para mim surpreso com a minha reação. – Isso quer dizer que os seus poderes estão evoluindo. Você vai ser o maior vampiro de todos! – eu ri, mas ele não. Ele continuava sério como antes. – Vamos, não fique assim. Você me trouxe de volta e eu devo a minha vida, ou morte sei lá, a você.

- Maggie... olhe em volta. Olhe o que eu tive que fazer. Eu me tornei um assassino.

Foi então que finalmente entendi a razão de todo aquele sofrimento. Olhei ao meu redor e pude ver a real situação. Tyler estava morto bem próximo a mim, com a faca de madeira cravada em seu peito. Os outros continuavam jogados pelo chão da sala.

Abaixei a cabeça em sinal de tristeza, afinal eles tinham sido apenas adolescentes comuns há poucos dias, antes de toda essa bagunça acontecer. E agora estavam mortos. Quatro jovens mortos.

- Você está mesmo bem? – Erik perguntou depois de um tempo em silêncio. Concordei com a cabeça, ainda sem saber o que dizer. – Precisamos ir. Aqui não é um bom lugar para ficarmos agora.

Ele me colocou de pé e depois me pegou no colo. Eu ainda não estava completamente recuperada do tiro. Eu tinha perdido muito sangue e nem ele, nem eu, sabíamos explicar porque eu ainda parecia ser tão humana. E pelo jeito nunca saberíamos.

Saímos depressa sem deixar rastros. Pelo caminho tomamos uma decisão inevitável. Precisávamos fugir. Mas antes eu precisava fazer uma coisa muito importante.

Entramos pela janela do meu quarto como da última vez. O dia já estava quase amanhecendo e não tínhamos muito tempo. Erik me esperou dentro do quarto enquanto eu saí de fininho pelo corredor em direção ao quarto da Julie. Abri a porta devagar e vi que ela ainda dormia. Cheguei bem perto da cama e a admirei por algum tempo antes dela abrir os olhos e me encarar sorridente.

- Você veio! Eu fiquei preocupada com você. – ela disse ficando sentada na cama.

- Sim, minha lindinha. Eu estou aqui.

- Está com fome?

Eu ri. Ela era sempre tão atenciosa. Uma verdadeira princesa num mundo tão sombrio.

- Não, não estou. – eu realmente não estava. Depois de morrer pela segunda vez, meu apetite tinha quase inteiramente desaparecido. – Julie, eu preciso te pedir um favor, você me promete que irá cumpri-lo?

- Claro Mag. Eu prometo. – ela cruzou os dedinhos sobre a boca, como qualquer criança faria.

- Eu preciso que você tome cuidado e cuide de tudo até eu voltar, ok? Eu prometo que voltarei um dia para ver você, mas não prometo que será em breve. – ela me encarou com um olhar triste, mas inteligente demais para saber que cedo ou tarde aquilo iria acontecer. – Tome conta de todos, ok? E principalmente, não se envolva com vampiros. – ela riu e eu ri também. – Eu te amo. – em seguida dei um beijo carinhoso em sua cabeça.

- Eu também amo você, vampirinha.

- Adeus. – e antes que ela pudesse responder, eu saí.

Quando voltei pro quarto, Erik já me esperava de braços abertos. Ele me segurou pela cintura e nós saímos como entramos: pela janela.
Nossa vida (ou morte) iria mudar drasticamente então decidimos que o melhor a fazer seria fugir pra algum lugar bem longe e esperar todo o tumulto passar. Como não poderia ser diferente, a polícia local encontrou os corpos na casa de Erik e deduziu que a história contada por ele na delegacia era falsa. Ou seja, ele se tornou o principal suspeito dos assassinatos bizarros na cidade.

Descobrimos que o preço a se pagar por termos virados vampiros era a imortalidade e isso até que não era tão ruim assim. Enquanto estivéssemos juntos, é claro. O que pretendíamos manter pra sempre.

Erik aperfeiçoou seus poderes e eu, bom, eu estava melhorando. Eu ainda não era uma vampira qualificada, era a vampira-com-atitudes-humanas mais estranha que já tínhamos visto em qualquer livro ou seriado de TV, mas isso não mudou o jeito da gente amar um ao outro. Nunca. Inclusive demos continuidade àquela sessão sádica de amor e sangue iniciada em New Jersey e finalmente fizemos amor, em algum lugar do sudeste do Brasil, mas não vou dizer exatamente aonde. Isso seria íntimo demais.

Eu já disse qual era a tal surpresa que Erik iria me fazer antes do eclipse? Não? Pois antes de nos aventuramos por aí, ele me pediu em casamento. E eu (é claro) aceitei. É, pois é. Nos casamos na Austrália, sem testemunhas, sem ninguém além de nós dois e um padre muito do supersticioso que ficava morto de medo cada vez que eu sorria e deixava a mostra meus dentes ultra brancos. Qual o problema nisso? Não posso apenas usar clareador dental?

Viajamos pelo mundo inteiro, por muito tempo. Conhecemos lugares incríveis, pessoas muito especiais, mas nenhum outro da nossa ‘espécie’. Éramos os únicos e até gostávamos disso. Exclusividade, se é que me entendem. No fim, os outros 2 adolescentes desaparecidos da escola foram encontrados em uma cidade próxima. Era um casal de namorados que pretendia uma fuga sem pensar nas consequências. Humanos comuns, adolescentes comuns.

Erik não bebia sangue humano nem atacava ninguém. Ele tinha aprendido a se controlar e eu gosto de dizer que eu ‘doava’ o meu sangue a ele sempre que ele precisava. Descobrimos que, por eu ser ‘meio humana’, meu sangue também tinha um gosto bom e isso o sustentava o suficiente. E eu, bom, eu me virava com comida de verdade sempre que sentia fome. Não era 100%, mas eu me sentia bem assim.

53 anos se passaram e estava na hora de voltar a onde tudo começou. A casa onde morei estava igual, exceto pela tinta gasta e algumas madeira puídas. Usando meu poder, reconheci o cheiro dela de longe. Senti um frio na barriga ao imaginar vê-la de novo depois de tanto tempo. Erik me deu forças para continuar e subimos até a janela do meu quarto como não fazíamos há décadas. A janela estava aberta, mas ao entrar vi que minhas coisas não estavam mais lá. No lugar da minha cama de solteiro, agora estava uma cama de casal forrada com uma colcha de renda e no lugar dos meus livros na prateleira, havia fotos e mais fotos de toda a família. Deixei escapar um suspiro ao ver que meu retrato também estava ali, junto com papai e mamãe e a pequena Julie.
Levamos um susto quando os passos atrás da porta chamaram nossa atenção. Como não havia onde nos esconder, Erik me jogou para trás do seu corpo tentando me proteger. A porta se abriu e o mesmo olhar de anos atrás me alcançou. O sorriso em seu rosto também era o mesmo, exceto pelas rugas da idade avançada.

- Julie? – eu saí de trás de Erik e fiquei na sua frente, a poucos centímetros da senhora de meia-idade.

- Eu sabia que você viria. Senti sua falta, minha irmã.

FIM

Abaixo, os atores que imagei como personagens da história. A imaginação é bela então sintam-se à vontade para citarem que vocês achariam que combinariam mais com os personagens dessa eletrizante história. E de qual final vocês gostaram mais? Vamos, comentem! Eu quero saber!! =)



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